Se nós que
cuidamos das almas soubéssemos como é o inferno e conhecêssemos a situação dos
condenados à perdição, ou se por algum outro meio nos tornássemos conscientes
de quão pavorosa é a condição deles; se ao mesmo tempo soubéssemos que a
maioria dos homens foi para lá e víssemos que nossos ouvintes não se dão conta
do perigo – nestas circunstâncias, seria moralmente impossível que evitássemos
mostrar-lhes com muita seriedade a terrível natureza de tal desgraça e como
estão extremamente ameaçados por ele. Nós até mesmo lhe clamaríamos em alta
voz.
Quando os
ministros pregam friamente sobre o inferno, advertindo os pecadores de que o
devem evitar, por mais que suas palavras digam que é infinitamente terrível,
eles acabam se contradizendo; pois à semelhança das palavras, as ações também
têm sua própria linguagem. Se o sermão de um pregador ilustra a situação do
pecador como imensamente pavorosa, enquanto seu comportamento e sua maneira de
falar contradizem isso – mostrando que ele não pensa assim – tal ministro vai
contra seu objetivo, porque neste caso a linguagem das ações é muito mais
eficaz do que o significado puro e simples de suas palavras. Não que eu credite
que devemos pregar somente a Lei; acontece que ministros talvez preguem
suficientemente outras coisas. O evangelho deve ser proclamado tanto quanto a
Lei e esta deve ser pregada apenas para preparar o caminho para o evangelho, a
fim de que ele possa ser proclamado de modo mais eficaz. A principal tarefa dos
ministros é pregar o evangelho: "Porque o fim da Lei é Cristo para a
justiça de todo aquele que crê" (Rm 10.4). Portanto, um pregador ficaria
muito além da verdade se insistisse demais nos terrores da Lei, esquecendo seu
Senhor e negligenciando a proclamação do evangelho. Mesmo assim, porém, a Lei
realmente deve ser enfatizada, e sem isso a pregação do evangelho talvez seja
em vão.
Certamente, é
belo falar com seriedade e emoção, conforme convém à natureza e importância do
assunto. Não nego que possa existir um pouco de impetuosidade imprópria,
diferente daquilo que, pela lógica, decorreria da natureza do tema, fazendo com
que forma e conteúdo não estejam de acordo. Alguns dizem que é ilógico usar o
medo a fim de afugentar as pessoas para o céu. Contudo, acho que faz parte da
lógica o esforço para afugentar as pessoas do inferno em cujas margens elas se
encontram, prontas para cair dentro dele a qualquer momento, mas sem se dar
conta do perigo. Não seria justo afugentar alguém para fora de uma casa em
chamas? O medo justificável, para o qual há uma boa razão, certamente não deve
ser criticado como se fosse algo ilógico.
Autor. Jonathan Edwards
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